Como não ser triste em 2024 se… fracassei mais do que gostaria?
Um manifesto pelo direito de fracassar.
Este não é um texto melancólico e recheado de pessimismo, mas um manifesto pelo direito de fracassar. A ideia aqui é contribuir para a quebra desse tabu, que vem sendo intensificado nos últimos anos à medida que as redes sociais se tornam uma arena cada vez mais sangrenta de troféus sociais.
“Deixe que te vejam tentar”.
Essa frase, cuja autoria e origem eu desconheço, ecoou na minha cabeça durante 2024. Afinal, tudo que eu fiz no ano que passou foi isto: tentar.
Aliás, se teve uma coisa em que eu triunfei foi em tentar. Eu tentei com todo o meu ser e com uma paciência que tive que colocar muito suor para desenvolver. Eu sempre quis tudo para ontem ou, no máximo, para agora. Ter que lidar com a construção de planos grandes, que é lenta e cheia de pedras no caminho, foi o maior desafio que encarei nos últimos tempos.
Fracassar é um exercício de coragem e a gente nunca está preparado para isso. Demanda fôlego, esforço mental e físico. É ir com medo mesmo, encarar o frio na barriga, enrijecer os músculos para absorver melhor a pancada iminente. É se expor e desnudar, um ato íntimo que só compartilhamos com poucas pessoas mais próximas. E, nesse sentido, o fracasso afasta e isola. É uma batalha solitária.
Mas se tem algo bom que o fracasso traz com ele é o aprendizado e o autoconhecimento. Soa clichê, eu sei. Mas posso afirmar para você que é um clichê cheio de verdades. Afinal, se você cai e levanta uma vez, na segunda já sabe como, pelo menos, cair melhor. Se você erra uma questão em uma prova, é provável que se lembre dela e não das que você acertou. O fracasso deixa marcas e exige ação, não admite a inércia.
Minha ideia não é romantizar o fracasso. Sejamos sinceros: ele dói e incomoda. Só que a verdade é que ele faz tão parte da nossa vida como os sucessos.
Sem o fracasso, as chances de triunfar em algo diminuem substancialmente. É muito difícil acertarmos de primeira, fazermos a escolha certa na primeira chance, escolhermos o caminho certo e nunca precisarmos dar meia volta. Nossas conquistas são construídas com tijolos sólidos de fracassos, que empilhamos calados um a um, sempre cuidando para que ninguém nos veja.
Se há sucesso, há fracasso em algum lugar. Provavelmente está escondido sob um véu de sorrisos falsos, atrás de um feed bonito nas redes sociais, ou quem sabe numa ausência injustificada. A única certeza é que ele existe. E existe para mim, para você e para eles também.
É bem mais cômodo e agradável compartilharmos as nossas vitórias. Mas a partir do momento em que fingimos que só elas existem, o mundo e as relações passam a assumir um caráter artificial, pasteurizado de toda e qualquer derrota. Os fracassos são a pitada de realidade que precisamos para nos conectar, para lembrar ao outro da nossa presença e de sua própria existência. Eles nos humanizam e compõem a dicotomia necessária para que os sucessos nunca percam o brilho nem se tornem ordinários.
Quando esvaziamos a vida dos fracassos, jogamos fora algo fundamental para que a felicidade seja produto das nossas conquistas. O fracasso é o reagente do sucesso, resultando na mais pura e límpida alegria.
Eu estou tentando e não estou conseguindo. E nunca me senti tão humana e leve como me sinto agora. Quanto mais fracassos, mais tijolinhos para empilhar, um a um. E, aos poucos, no tempo dos homens e não das máquinas, a estrutura sólida da vida vai se formando.